Lembro claramente que no dia 1 de maio de 2024, sentei sozinho na LaCasa Vale com um charuto a pouco chegado ao Brasil – Casdagli linha tradicional. O charuto parecia muito interessante porém a anilha simples deixou uma dúvida enorme sobre o que realmente esperar daquela tarde. Um livro aberto, água com gás para limpar o palato e um Casdagli para acompanhar.
Confesso não ter um paladar tão diversificado por isso, costumo degustar alguns charutos em solidão e sem interferência alcoólica – penso que seu protagonismo é importante.
Capa linda e construção impecável. “Fechamento do pé” com o tabaco de capa o que demonstra um cuidado enorme do torcedor e fabricante chamaram a minha atenção. O aroma leve do acendimento gerando curiosidade para a degustação fizeram do livro secundário.
Um sabor levemente defumado e com notas doces não demorou a se apresentar. Cinza persistente e anéis bem definidos com o desenho dos veios do tabaco – poético – me fizeram entender que estávamos falando de um charuto realmente acima da média.
O segundo terço foi ainda mais saboroso, enaltecendo as notas de sabor que, para um paladar humilde não se furtaram. Neste momento a cinza caiu firme, não se desfez, e o “lápis” apareceu perfeitamente como se ousasse dizer que minhas primeiras impressões estavam realmente erradas.
O terceiro terço – que normalmente não me agrada muito – queimou os dedos para reforçar o recado dado anteriormente, fazendo desta degustação uma das mais prazerosas até aquele momento, fazendo da sua anilha simples, uma recordação incrível.
Se a experiência foi tão boa, porque só agora permitir que nosso clube conhecesse o charuto? Pois bem, quando soube que o importador tinha em seu estoque as últimas caixas deste charuto e que, provavelmente, ele não volte ao mercado nacional, um alerta se acendeu e fizemos desta oportunidade algo realmente exclusivo.
Sentirei saudades deste tabaco, e tenho certeza que você também, porém, a história ainda não terminou, na verdade algumas coisas se explicam a partir daqui.
Esta linha de charutos, que possui o total de 6 bitolas, é produzida pela Kelner Boutique Factory.
Localizada na República Dominicana, possui o DNA dos melhores Blenders do mundo e se especializou em charutos extra premium através da união de especialistas em produção, blend e construção. Fundada por Hendrik Kelner Jr., rapidamente tornou-se uma boutique de luxo com produção limitada a exportação para os principais mercados do mundo.
Criar uma linha “tradicional” foi a maneira de homenagear os charutos cubanos, amplamente conhecidos e degustados nos anos 90 porém, este exemplar possui em média 10% a mais de peso que seus primos cubanos, o que reforça a excelência do fabricante.
A história da família Kelner é incrível e você saberá mais ao ler o review do charuto selecionado para o LaCasa Club+, onde o Smoking Jacket Mini Henkie é o protagonista de Outubro/25 e você degustará ele com uma resenha incrivelmente elaborada pelo @cigar_adicto.
Mas, se você não faz parte do LaCasa Club+, pense com carinho em dar um up-grade em seu plano pois o charuto é uma pequena jóia!
Boas baforadas!
Luis Henrique Roman – Cigar Sommelier
Nosso charuto de hoje é o Smoking Jacket “Mini Henkie”, fabricado pela Kelner Boutique Factory.
Em março/abril de 2024, a Smoking Jacket lançou a continuidade da linha Henkie, em homenagem a Hendrik “Henke” Kelner, personalidade da indústria do charuto e pai de Hendrik Kelner Jr.
“Henkie” é considerado o “guru do tabaco”. Fundou e administrou a fábrica Tabadom da Davidoff, na República Dominicana, por mais de 30 anos. Não foi por acaso nomeado presidente ad vitam da PROCIGAR.
A título de informação, a Procigar é a associação dominicana de fabricantes de charutos, formada em 1992, por um grupo dos mais renomados fabricantes de charutos da República Dominicana, com o objetivo de fomentar e proteger a indústria dominicana de tabaco, mantendo seus altos padrões de qualidade. Fazem parte da Procigar, por exemplo: Arturo Fuente, LFD, Oettinger Davidoff, General Cigar Dominicana, Quesada Cigars, Casa Carrillo, PDR Cigars, La Aurora, Tabacalera Garcia e vários outros fabricantes.
Retornando ao tema, a marca Smoking Jacket foi criada por Hendrik Kelner Jr e ele escolheu esse nome porque sempre teve uma afinidade por smoking jackets, “uma tradição há muito tempo perdida de elegância e bom gosto. Queria criar uma marca de charutos com a qual todos se identificassem, não um sobrenome forte ou um título forçado, mas como a própria peça icônica, uma marca que todos sentissem como sua”.
Agora a gente entende o logotipo da marca: são as lapelas do smoking jacket.

A linha “Henkie” foi criada em 2017, no tamanho 6” x 51 (Toro), em homenagem ao pai de Hendrik Kelner Jr., no estilo que seu pai gostava dos charutos na época. A capa é de Cotuí dominicano envelhecido por 9 anos e produzido na fazenda da família para uso exclusivo na KBF. O capote é da região de Monte Plata, também da fazenda Kelner. O miolo de San Vicente; Monte Plata (fazenda Kelner); Condega (Nicararágua) e Corojo Dominicano.
Se alguém faz um charuto para uma lenda da indústria dos charutos, não pode ser qualquer charuto. É uma grande responsabilidade, penso eu.
Antes de continuar, preciso contar que a resenha a seguir foi escrita com a especial colaboração de HENRIK KELNER (filho de Hendrik Kelner Jr.), com o qual conversei há alguns dias:
“Henkie” é o nome pelo qual chamamos o meu avô. É um apelido de família. Meu pai fez o charuto Henkie pela primeira vez em homenagem ao pai dele (meu avô). Foi um charuto que ambos criaram juntos usando tabacos que os lembrava dos bons tempos que trabalharam na Davidoff”.
Como mencionado no início, entre março e abril de 2024 a KBF lançou o “Mini Henkie”, no tamanho 46 x 4” (Petit Corona), porém com um novo blend.
E por qual o motivo? O Mini Henkie foi criado pensando no estilo que o pai de Hendrik Kelner Jr. fuma atualmente.
Fato: o paladar muda. Agora você sabe o motivo de não conseguir olhar para o charuto que você adorava anos atrás (risos).
Brincadeiras à parte, outro fato interessante é que o blend do Mini Henkie ficou a cargo de Henrik Kelner e Hendrik Alexander (irmão de Hendrik Kelner Jr.), respectivamente, neto e filho de Henke.

Em pé: Henkie (esquerda) e Hendrik Jr. Sentados: Hendrik Alexander e Henrik Kelner (direita) – Foto cedida por Henrik Kelner
Eu poderia jurar que o “Mini”, de “Mini Henkie” tinha relação com o tamanho do charuto (46 x 4”), mas não tem. Obviamente ele é mini porque é pequeno, porém, Henrik Kelner me disse: “mini” é uma alusão aos mais jovens; refere-se à nova geração da família.
O charuto foi criado nessa vitola porque seu avô, hoje em dia, gosta de fumar charutos pequenos.
É uma vitola pequena porque meu avô gosta de fumar charutos pequenos hoje em dia. Então, fizemos um Henkie pequeno para ele, que não costuma mais fumar charutos grandes, disse Henrik.
Eu perguntei a Henrik como foi criar um charuto para a lenda da indústria do tabaco e ele respondeu:
– Foi um blend de aprendizado que desenvolvemos, eu e meu tio. É claro que recebemos ajuda dos mestres.
Bem, vamos falar, efetivamente, sobre o charuto. País de Origem: República Dominicana; Vitola: Mini Henkie (Petit Corona); Tamanho: 46 x 4”; Força: Médio. Disponíveis em caixas de 20 unidades, com produção regular.
O blend Mini Henkie apresenta uma capa envelhecida cultivada por Monika Kelner (filha de Henke Kelner) em sua fazenda em Yamasá, na República Dominicana; capote da região de Cotuî, também cultivado por Monika Kelner e o miolo inclui Pelo de Oro, Criollo ’98 (também da fazenda de Monika Kelner, em Yamasá) e um Ligero de Condega, Nicarágua.
A anilha apresenta o logotipo da marca na cor preta, com fundo dourado. Na parte de trás o nome Mini Henkie.
A capa é bem bonita, com poucos veios aparentes. Bem enrolado, firme e sem pontos esponjosos. Vem com o pé fechado, estilo que, particularmente, não me agrada muito. Não acho que acrescente algo ao charuto. Pelo contrário, atrapalha na hora de acender. Também não acho que fique bonito, pois a capa é apenas amassada no pé do charuto. Esteticamente prefiro o estilo que a própria KBF faz nos Villa Casdagli Pigasus, por exemplo, onde a capa é enrolada ao pé do charuto. Fica bem mais bonito.
A capa tem um aroma muito bom, doce, floral e tabaco envelhecido. No pé (depois de aberto) uma doçura mais acentuada e tabaco. No tiro seco o mesmo dulçor, frutas maduras e capim.
A primeira puxada da queima dá um susto. Começa com personalidade. Esse pitoco engana, eu pensei. Mas fique tranquilo, tudo se equilibra. Nas primeiras puxadas notas de madeira, pimenta, especiarias e terra. Fumaça abundante e cremosa. Fluxo na medida certa.
A linha de queima é um pouco irregular, mas nada que necessite ser corrigido. A cinza tem uma cor cinza.

No segundo terço a terra se intensifica, principalmente no retrohale. Sinto um herbáceo que lembra chá preto.
No terço final um toque de café, madeira, pimenta dominam. Percebi algumas vezes um toque cítrico. Os sabores são robustos e talvez não agrade o fumante iniciante.
Não tive problemas com a queima nem combustão, ou seja, não necessitei corrigir a linha de queima nem reacender o charuto.
No geral, o charuto é bem construído, e bom em termo de sabores, embora eu esperasse mais, diante de todo o contexto envolvido.
Não se deixe influenciar pelas minhas impressões pessoais. Fume e compare com as suas percepções sobre o charuto.
Claudino Alves por @cigar_adicto



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